A Construção da (Des) Ordem na América Latina e no Mundo Antigo

Ano: 2019

O livro A construção da (des)ordem na América Latina – perspectivas trata de estudos sobre a elaboração da ordem nas sociedades europeias e latinoamericanas.

A concepção para a organização dessa publicação surgiu após intensas discussões sobre as obras de Georges Balandier, especialmente a Desordem e o Contorno.

A leitura e a interpretação desses temas nos instigaram a escrever sobre a desordem dominante nos dias atuais e os processos políticos para reconstrução da ordem nas sociedades mundiais, produzidas pelo fenômeno da globalização.

As análises e interpretações sobre o novo mundo multifacetado e vítima de processos políticos abusivos, despóticos e arbitrários, que acentuaram as desigualdades, diferenças, indiferenças e até invisibilidade entre os diversos segmentos sociais, nos levaram a essa publicação que reúne fragmentos das pesquisas apresentadas pelos autores sobre práticas sociais e representações da Antiguidade aos dias atuais.

As reflexões de Balandier em O Contorno (1997, 7:19) permitem repensar sobre as estruturas implantadas no Novo Mundo após a chegada dos europeus e que persistem, embora ressignificadas, na maioria dos países americanos. As crises contemporâneas nesse mundo globalizado, acentuando as diferenças sociais, nos estimularam a rever aqueles fenômenos intrínsecos à construção de um mundo semelhante ao europeu, desconsiderando a ancestralidade das sociedades indígenas.

Assim, Balandier oferece uma reflexão crítica sobre as ausências de referências e nos aponta um mundo de incertezas. Para o autor, […] o tempo não está identificável; visto de relance parece ser o tempo dos apagamentos, dos desaparecimentos, das formas em vias de fazer-se, mas instáveis […] (idem, p.9).

Essa sensação de vazios perpassa pelos imaginários e quase que de forma unânime […] o senso comum afirma que nada mais é como antes, sem situar esse antes, faltam referências e sobram razões de incerteza […] (idem,p.9). Esse estado cataléptico domina as sociedades que podem ver e ouvir tudo que acontece e fi cam inertes, paralisadas pelo medo da crise. Embora esse estado possa se reverter, o mal já está instalado e as crises atingem as casas e as ruas.

Os processos coercitivos surpreendem as populações que perplexas, retardam a reorganização de suas estruturas. É o fim da representação do real. A realidade se esvai e com ela a esperança de se pensar no que o “real é hoje”. Segundo Balandier, nessa ausência, estruturas desaparecem e não são substituídas, ocasionando as crises conjunturais. Essas crises definem um tempo de transição acelerado, súbito e imprevisível, durante o qual tudo se apresenta sob o aspecto do movimento, da decomposição, assim como é a irrupção do novo. É o retorno a uma espécie de caos coletivo dramatizado.

A ordem é subitamente restabelecida com a chegada do novo (idem, p.10).

A consciência da desordem persiste na memória coletiva e cria “reações contrárias”, da mesma forma, que a construção histórica permite que a ordem se esconda na desordem.

Sob diversas facetas, a construção da ordem no Novo Mundo adotou a desordem e a arbitrariedade para apresentar à Europa quinhentista a sua obra suprema. A dessacralização dos espaços sagrados indígenas foi acelerada com a ressacralização cristã-ocidental. Esse projeto vencedor construiu o Novo Mundo, Nossa América, como define José Martí.

Ordem e desordem não se separam, não se dissociam e dessa maneira são tratadas por George Balandier e pelos autores dos textos apresentados neste livro, sob diversas óticas temáticas.

Nesta publicação, os autores preocupam-se com a desordem na atualidade, pois a “desordem não se isola e a consciência do desordenado exaspera”, e concluem que as representações da desordem são reveladoras como as desigualdades, as diferenças, a miséria, a fome e a doença, entre outras situações sociais.

Por esse olhar, definiram seus estudos e apresentaram fragmentos de suas pesquisas, algumas ainda embriões de futuras teses e publicações.

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