Vida cotidiana, cultura material e história social em Charcas durante as grandes rebeliões: Seguindo os rastros de seus protagonistas invisíveis.

Autor: Alexandre Belmonte

Ano: 2019

Este projeto de pesquisa procura recuperar as práticas sociais de indígenas e mestiços ligados às rebeliões que ocorreram em Charcas, no Vice-Reino do Rio da Prata, durante os anos 1780-1783, desde as províncias ao redor de Potosí e centrando-se nessa Vila Imperial. A gigantesca máquina burocrática da administração espanhola de suas colônias americanas nos deixou de legado um dos mais importantes e interessantes espólios documentais do ponto de vista de como a sociedade hispano-americana se pensava, quais os bens que seus diversos segmentos sociais possuíam e como lidavam com as questões legais e de legitimidade.

Trata-se dos testamentos e inventários de bens. São documentos legais, escritos por um escrivão em papel timbrado do estado, conformados por diversas cláusulas que versam, dentre outras coisas, sobre a salvação da alma, o reconhecimento de filhos ilegítimos e a distribuição de bens na forma de herança. De acordo com as cláusulas dos testamentos, se podem perceber e analisar uma série de aspectos da vida cotidiana da sociedade colonial: se reconhece a proveniência geográfica e étnica do testador, sua idade, seu endereço e conformação familiar, seu estado de saúde, a religiosidade, práticas funerárias e de enterro, seu estado civil e descendência, os bens materiais que possuía, suas relações familiares e sociais, sua relação com a Igreja etc.

Evidentemente, nem todos esses elementos estão presentes o tempo todo em todos os testamentos. Nosso objetivo específico é determinar as condições de vida dos indígenas que deixaram bens a seus herdeiros por meio de testamentos, analisando diferentes atores indígenas provenientes de diversos estamentos e setores sociais, examinando suas práticas políticas, laborais, sociais e suas culturas materiais. A documentação que analisaremos é formada basicamente por testamentos de homens e mulheres indígenas, do final do século XVIII na região de Charcas.