América Latina: Os Sobreviventes. Miséria, Desigualdades, Exclusões e Invisibilidade.

Ano: 2020

O livro América Latina em confronto. Invisibilidade – desigualdades e exclusões é fruto de estudos e refl exões sobre a extrema desigualdade predominante na América Latina. A constatação do alto grau das diferenças sociais que marcam as sociedades latino-americanas é aterradora, vinculadas ao capitalismo e à globalização, onde se destacam a crueldade da divisão desigual das classes sociais, os preconceitos, as discriminações e a xenofobia. Esperava-se que o Mundo Novo, construído pelo espírito quinhentista religioso europeu, correspondesse aos anseios da cristandade ocidental e acolhesse em suas terras os pobres e desprotegidos de acordo com os preceitos espirituais do Império Espanhol.

Em nome de Deus, os europeus ressacralizaram os espaços conquistados aos povos indígenas e os distribuíram para aqueles que prestavam serviços à Coroa, excluindo os habitantes nativos e os colonos empobrecidos. Além dessas exclusões político-administrativas, AMÉRICA LATINA EM CONFRONTO | 7 os europeus saquearam suas riquezas e condenaram grande parte daquela população à miséria e à degradação. Os excluídos conseguiram sobreviver à margem da sociedade. Proscritos, despercebidos, isolados do mundo dos dominantes, resistiram em sua invisibilidade. A fronteira das desigualdades sociais se ampliou com a indiferença e a exclusão desses seres marginalizados.

Relegados à periferia, descartados e desprezados fi caram à margem, invisíveis. Excluídos da organização dominante mantém com difi culdade a dignidade, apesar das privações a que estavam subordinados devido ao regime cruel da divisão de riqueza e poder. Situação que persiste aos dias atuais, e se multiplica, pela manutenção das estruturas impostas. Além da exclusão, os sobreviventes são segregados pelo sistema dominante e condenados à periferização. O tratamento diferenciado os torna desiguais e essa desigualdade inibe e prejudica o reconhecimento desses grupos como pertencentes à mesma ordem social, além de não apontar perspectivas de alteração dessa situação de abandono.

Os estudos reunidos neste livro apresentam essa questão de forma polissêmica. A invisibilidade é tratada como exclusão de determinadas categorias sociais da ordem social vigente, ou através da indiferença, do desconhecimento, dos preconceitos e das discriminações. Os sobreviventes serão aqueles que conseguirem resistir à crueza da vida material e lutarem para sua inserção social, mas carregarão inevitavelmente as marcas da indiferença e da infâmia sofrida, difíceis de serem esquecidas. Essas marcas serão as suas resistências. Resíduos da invisibilidade estarão presentes e perpetuados em suas vidas. São permanências culturais que, mesmo ressignificadas, permanecerão em seus imaginários, guardadas pela memória coletiva dos tempos da indiferença, dos preconceitos, das discriminações e das exclusões.

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