Cronistas da conquista colonial: A cosmovisão andina vista na longa duração

Autor: Alexandre Belmonte

Ano: 2015

O presente projeto se inscreve num projeto mais amplo, intitulado “Rebeliões americanas no século XVIII: estudos de história comparada”, contemplado com fomento de APQ1 da FAPERJ, 2016. Alguns cronistas coloniais da conquista espanhola – em especial Garcilaso de la Vega e Guamán Poma de Ayala – nos dão muitas indicações a respeito da mentalidade mítica dos povos andinos, além de informações valiosas acerca das rivalidades e dos ressentimentos nutridos por vários povos, como os aymara, em relação aos incas – que haviam adotado o idioma e a cultura quêchua.

Uma vez que os incas não deixaram uma linguagem escrita, como fizeram os maias quichés, os primeiros cronistas são fundamentais na tentativa de recuperar informações e pistas sobre as culturas andinas, seus modos de representar a realidade, sua cosmovisão e sua vivência pautada em valores tão diferentes dos valores europeus. Entretanto, foi justamente essa diferença que fez com que os cronistas acabassem por disseminar inúmeros estereótipos acerca dos nativos, o que torna a leitura de suas obras uma tarefa complexa e que requer método. Em relação ao universo mental andino, o cronista peruano Garcilaso de la Vega é peça fundamental para se compreender o nativo e sua cosmovisão, e é o principal objeto desta pesquisa.

É também o primeiro cronista a mencionar o mito do Incarrí textualmente, indicando uma percepção bastante peculiar da cosmovisão nativa. É a partir de sua principal obra, Comentarios Reales, que propomos um estudo do universo mental andino, tendo como pano de fundo a colonização, mas sem perder de vista a longa duração, no intuito de estudar os mitos andinos, sobretudo os que apontam para as ideias de tempo cíclico e as ideias milenaristas e messiânicas. A leitura de Garcilaso deverá ser cotejada à leitura de outros cronistas do período, em especial Guamán Poma de Ayala, Juan de Betanzos e Pedro Cieza de León.